Pedalar...

PEDALAR, CINEMA INTERATIVO 360°
A BICICLETA E OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NOS CHAMANDO PARA A VIDA

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ciclotur Caipira - Americana a Itirapina


 Não é novidade para ninguém a minha paixão pela bicicleta.

Sempre que posso saio para uma viagem com ela, longa ou curta, tanto faz.

Depois do assalto que sofremos em Praia Grande em outubro, perdi meu parceiro de pedal e, pra mim, uma mulher, nem sempre é fácil de conseguir companhia.

Tem uns caminhos para se fazer sobre duas rodas aqui pela região, e meio que sem querer descolei uma parceria de pedal.

Eu desejava fazer um ciclotur sem pressa, acampando, parando sempre que desse vontade, sem aquela correria que experimentei em outras viagens,enfim, sem se importar com o tempo e a quantidade de quilometros.

Algumas das viagens que fiz se tornaram uma verdadeira maratona e eu me perguntava: pra que, pra quê correr tanto, sem ter tempo para desfrutar das paisagens e de tudo o que envolve uma viagem de bike?

Ouço relato de amigos que fizeram o Caminho da Fé em quatro dias, que pedalaram mais de 100km no mesmo dia e sempre pensava o por quê pessoas que amam tanto a bici não conseguem sinceramente usufruir do tempo que passam em cima dela.

O Ricardo, parceiro de primeira vez comigo, se mostrou um verdadeiro aventureiro sobre as duas rodas.

O melhor de tudo é que pedalamos no mesmo nível e isso fez com que nós pudessemos pedalar sem tanta correria.

Optamos por um roteiro de 130-140 km pela nossa região. Combinamos de pedalar sem pressa e sem hora pra chegar.
Para tanto, levamos todos os apetrechos de camping, inclusive para cozinhar e pescar, se fosse o caso.

O Ricardo, nesse aspecto, tem uma boa vivência e eu me senti em segurança pois nas minhas viagens nunca precisei fazer camping selvagem ou algo assim.
E isso era um desejo meu de muito tempo.

No dia 09 de dezembro começamos a pedalar às 5 e meia da manhã. A noite foi muito quente e abafada e a previsão do tempo indicava que a temperatura e a umidade seriam elevadas.


De Americana fomos em direção à Santa Bárbara D'Oeste até alcançarmos a Rodovia SP 306, que liga esta cidade à cidade de Iracemápolis.


O dia começou a clarear e nós já havíamos pedalado 20km.
Ponte do Funil - SBO
Da ponte do Funil em direção à cidade de Iracemápolis, a rodovia é de pista simples e sem acostamento. A umidade era alta e as seis e meia da manhã eu já suava.

A bike do Ricardo estava pesada, o que o obrigava a pedalar mais devagar. Quando encontramos uma entrada de sitio, fizemos uma breve parada para consumir um isotônico.


À direita, visualizamos o ponto mais alto da região, o Morro azul.

Morro Azul ao longe

Sem problemas e até com certa rapidez, chegamos na cidade de Iracemápolis.


Nesse ponto, entramos na rodovia que liga Limeira à Tanquinho, um bairro pertencente à cidade Piracicaba, famoso por causa da Festa do Milho Verde. Com tempo de pedal de 2 horas e 15 minutos e 35km, paramos para fazer um lanche.


Rodovia de mão dupla, com trânsito pesado de caminhões e com bom acostamento, por enquanto a pedalada se fazia por asfalto na sua totalidade.

Às 9:40 da manhã e com 45km chegamos em Tanquinho.





O roteiro era novo para nós, então a partir de Tanquinho começamos a pedir informações para podermos chegar na pequena cidade de Ipeúna.

As estradas de terra nos esperavam e não foi dificil encontrar a saída.

O Ricardo, muito prevenido, levou um galão de água congelada, de forma que pedalamos 50km tomando água gelada, o que é ótimo!

Canavial baixo, terra branca, vento soprando a nosso favor e o sol às nossas costas, nos favoreceu muito neste primeiro dia.


Sem GPS, sem mapa, seguimos em frente, às vezes em dúvida se estávamos no caminho certo. Mas nosso Jah e o instinto de navegação do Ricardo nos fazia prosseguir com uma certa confiança.

Quando mais precisávamos, encontrávamos uma sombra para refazimento das energias.

Sombra amiga
Apesar das bifurcações, seguiamos no caminho certo e a paisagem ia ficando mais bonita.

Este caminho não é o correto. Fomos até a alta tensão e voltamos

Estávamos seguindo em direção à Serra da Pitanga. Para mim era tudo novidade.

Esta serrinha é curta, mas muito bonita. Descemos uma descida alucinante e, lá embaixo, outra bifurcação que nos deixou em dúvida. Mas o GPS interno do Ricardo era eficiente e o caminho logo se mostrou o certo.


A descida acabou e logo à nossa frente encontramos a ponte de ferro sobre o Rio Corumbataí.


A sombra da mata ciliar era boa e nós ficamos um pouco na beira do rio, aproveitando sua beleza.

Neste ponto o velocímetro marcava 58km. O sol já estava pegando e nossa água quase no fim.
Uma longa subida à nossa frente e, após ela, uma sombra convidativa.
Resolvemos parar num recanto sombreado e esperar o sol abaixar um pouco. 

O moral estava alto e o cansaço quase nada.
O Ricardo levou até uma rede para descansar.
A única dúvida era quanto ao caminho estar certo ou não.
Se estivesse errado, sairíamos em Brotas.

Seguindo à frente outra subida e pouca sombra, avistamos um sitio e o Ricardo resolveu parar para pedir água fresca. Apesar de haver gente, ninguém nos atendeu.

Mais à frente, outra bifurcação e uma placa indicando "Bairro Sitinho". 
De Tanquinho até este ponto, encontramos apenas duas pessoas pelo caminho e a dúvida de estar ou não no caminho certo ainda existia.

Passando por uma propriedade, avistamos um senhor que, apesar de não ouvir direito, era antigo morador do local e nos deu as informações necessárias, além de água fresca e gelo para nos refrescar. Tive a feliz idéia de colher uns ramos de hortelã, o que deixou nossa água mais refrescante ainda. Gente boa, a desse sítio!

Quanto vale a água fresca?
Quanto vale a camaradagem?
Quanto vale a solidariedade?

Pensava nisso, na importância das pequenas coisas, dos pequenos gestos...







O velho senhor que nos atendeu com tanta amabilidade, nos informou que logo adiante haveria um pesqueiro.

A estrada mostrou-se sombreada e em declive. 

Encontramos a ponte sobre o Rio Passa Cinco.

 Alguns quilometros adiante e nos deparamos com vários cães, todos grandes e aparentando serem bravos. Mas nós não temos medo de cachorro e resolvemos encarar o desafio de passar por eles.

Com grata surpresa, percebemos que aqueles cães pertenciam ao pesqueiro mencionado e de imediato a dona Sonia veio nos atender, com gentileza.

O pesqueiro chama-se Marchiori e cria também peixes ornamentais.

Solicitamos permissão para acampar por alí e fomos bem atendidos pela familia que alí reside.

Este pesqueiro é lar de pelo menos cinco cães grandes e três filhotes de labrador, um mais lindo que o outro.


O primeiro dia de pedal fechou com 63km pedalados em 4 horas e meia.

Montamos nossas barracas de frente para o lago.


Depois de tanto sol e suor, o banho para mim foi maravilhoso!

O cansaço da pedalada se fez presente e tudo o que faltava era uma boa refeição.

O Ricardo, então, bom pescador, pescou duas tilápias. O "seu" Luiz as preparou com muito sabor e rapidez. Um arroz à grega e uma salada de batatas com ovos cozidos completou a refeição deliciosa.

O rio Passa Cinco, corre nos fundos do pesqueiro e nós fomos conhecer sua prainha.

A tarde caiu deliciosamente.

Eu não estou acostumada a dormir no chão duro, mas mesmo assim a noite foi boa.

Acordamos tarde e com o maior cão do pesqueiro na porta da nossa barraca. Um cão muito lindo mas que estava um pouco machucado por causa do ataque de um búfalo.


Dia 10/12/2010 - odômetro da minha bike marca 3.806.5km, rodados em um ano.

Era 07:40 da manhã quando nos despedimos daquela gente boa do Pesqueiro Marchiori.


E já iniciamos a pedalada com uma subida digna daquelas do Caminho da Fé: a serra de Ipeúna.


A subida da serra, cheia de sombra e perfume foi muito legal. O Ricardo, com a bike pesada, após a subida, precisou parar um pouco para descansar e  eu aproveitei para fazer algumas imagens.


A estrada seguia muito linda e a brisa da manhã ainda estava presente. Um pouco à frente encontramos uma igreja com recinto de festas que pode muito bem abrigar viajantes de passagem por alí. Tem água e banheiro.


Neste segundo dia o vento soprava com menos intensidade e não havia cobertura de nuvens. 
A paisagem era cada vez mais bela. A Cuesta estava à nossa esquerda.





O sol sempre às nossas costas pois pedalávamos direção Sul-Centro-Norte. 
Neste segundo dia a cobertura de nuvens diminuiu, as arvores também.

As subidas aumentaram bastante e começamos a encontrar muita areia, o que nos impedia de avançar mais rápido, obrigando-nos muitas vezes a empurrar a bike.

O sol estava muito forte e nossa água logo acabou.

Demorou para encontrar uma casa para que pudéssemos nos abastecer de água fresca.

Ponte sobre a linha férrea

Ao lado da ponte encontramos uma propriedade, cujo casal nos recepcionou muito bem, nos fornecendo água gelada. A localidade chama-se Bairro dos Pereira e foi alí que, pela primeira vez, avistamos a linha do trem, que nos acompanhou durante o restante do percurso. Este trem nos mostrou que o caminho para Itirapina estava correto.



Resolvemos seguir um pouco mais para - quem sabe! - encontrar um lugar bacana para descansarmos um pouco.
Encontramos uma subida de respeito. Ufa, haja pernas!


Às 12:30 horas, com 91,54km de pedal encontramos um lugarzinho ideal para descansarmos até o sol baixar. Apesar de haver uma casa alí, o local não tinha água, mas mesmo assim estava muito agradável.

Combinamos de voltar a pedalar às 16 horas, mesmo se o sol ainda estivesse ardente.

Não sabíamos muito bem a quantos quilometros estávamos do nosso objetivo.

Esta região tem terreno muito arenoso e nós não escapamos da dificuldade.















Novamente nossa água acabou e demoramos um pouco para encontrar um sítio para abastecer.

Aos 94km, com 7 horas e meia de pedal, chegamos na localidade de Pedra Branca.



Notamos que a linha do trem passa atrás do sitio e perguntamos ao moradores se essa linha férrea provinha de Itirapina, o que foi confirmado.

Os moradores nos informaram também que a estrada praticamente acompanha a linha do trem até chegar à cidade.

Muita areia no caminho e sol escaldante.


Sorte eu ter levado meu chapéu.



O relógio marcava 17:50 horas e o sol não dava trégua. 

Por várias vezes passamos por debaixo da linha férrea.
 
Eu me sentia bem, apesar do esforço e do calor extenuante.

A estrada começou a ficar mais sombreada e mais movimentada.
































Uma outra bifurcação e, por sorte, um carro para nos informar a direção correta. Ao longe já avistávamos a cidade de Itirapina e o maior morro da região, o Morro Pelado.



Mais 1,5 quilometros e chegamos à simpática cidade de Itirapina.

A fome e a vontade de nos refrescar eram enormes e foi com satisfação que encontramos uma sorveteria.

Às 19 horas, o velocímetro marcava 9:10 horas de pedal, com 110km pedalados.

Chegamos num camping muito maneiro, com muito espaço e um chuveiro excelente, bem no centro da cidade, Camping Paraíso das Águas.

Camping

Estávamos exaustos de um dia inteiro de pedal sob sol forte, mas o Ricardo ainda cozinhou um arroz com calabresa acebolada.

Eu só queria descansar, mas topei em dar uma volta pela cidade.

A praça central estava animada e toda decorada para o natal. Havia missa na igreja.

A todo momento eu sentia necessidade de me hidratar. Com certeza havia perdido muitos sais minerais com o suor.

O desejo era de esticar o corpo e eu recordava minha cama macia.

A realidade, porém, era outra: minha barraca e meu saco de dormir.

Apaguei a noite toda e fiquei surpresa, pois dormi muito bem.

O dia 11 de dezembro amanheceu com o sol estralando. Minha idéia era descer pedalando até Rio Claro mas o Ricardo estava cansado e não concordou.

Sendo assim, levantamos acampamento e seguimos até a rodoviária.

Claro, paramos numa padaria para um café da manhã e uma foto da dupla em frente à igreja.

















Só haveria ônibus na parte da tarde.

Existe uma pequena represa dentro da cidade, com um parque, e nós fomos passear por alí.



Resolvemos voltar para o camping e ficar por lá, descansando.


Soltar o corpo numa piscina era exatamente o que eu precisava!
Todo o cansaço foi embora.
















Percebi que o tempo estava mudando para chuva. 

Seguimos novamente para a rodoviária para aguardar o bus, esperando que o motorista não implicasse em colocar as bikes no bagageiro.

Em Itirapina não tem bus direto para Americana, por isso eu gostaria de ter pedalado até Rio Claro.


O ônibus que passa mais perto de Americana vai até Campinas. 

Sem ter o que fazer quanto a isso, aguardamos o veículo com paciência.

Não tivemos problemas para embarcar com as bicicletas montadas.

Já na rodovia, a chuva caiu com força. Eu não via a hora de chegar em casa e tirar o suor do corpo. Interessante, não me sentia cansada, muito pelo contrário.

Uma boa alternativa para chegarmos mais cedo em nossa cidade apareceu quando o bus parou num posto de combustivel, nessas paradas de estrada.

Estávamos em Limeira. Resolvemos pegar as bicicletas e terminar o percurso pedalando.

A chuva havia passado e o ar estava fresco.

Lá estávamos nós, na rodovia Anhanguera, felizes da vida.

Agora faltava pouco.

Deixei o Ricardo pedalar na minha frente, senão eu começo a pedalar e, quando vejo, deixo ele pra trás. Não acho legal distanciar muito quando estou pedalando com outra pessoa e também não gosto quando fazem isso comigo.

Estava tudo muito bom quando o Ricardo passa por algo que furou seu pneu traseiro. De onde estávamos dava pra ver outra chuva chegando, mas o cara é rápido e trocou o pneu rapidinho. Alívio!

 

Mais alguns quilometros e saímos da rodovia, pegando uma estrada de terra.

Conseguimos chegar em casa antes da chuva e o velocímetro marcava 134,42Km - Média de 12,4Km p/hora - 1.475 calorias gastas - 11:02 minutos de pedal.

Este cicloturismo, apesar de curto, foi bonito e prazeroso, feito sem pressa e sem competição e, principalmente, sem o espírito de maratona que acontece quando os bikers competem por tempo e velocidade.

A região que fica entre Limeira, Rio Claro, São Pedro, Brotas e Itirapina é muito rica para quem gosta de pedalar, cheia de belas cachoeiras e serras de respeito.

Eu ainda tenho muito que conhecer por alí.

Então, até a próxima aventura sobre duas rodas.

6 comentários:

  1. Pô, fiquei cansado só de olhar!
    Parabéns pela aventura e pelo blog. Cada vez que eu tô voltando das minhas parcas pedaladas, eu lembro de você e fico com vergonha ahuahushuahsua!

    bj

    Pituca

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  2. Marlene, parabéns pelo seu trabalho em favor das duas rodas.
    Que teu Jah te faz cada vez mais forte e feliz.
    Beijos, muitos beijos e mais beijos,

    Rastafari

    Ras Geraldinho

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  3. Gostei da sua garra, deve ser uma parceira bacana, a sua região é linda eu não conheço, mas espero pedalar por aí...qual o seu próximo pedal...podia postar os planos 2011. Sempre visito aqui...

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  4. Que maravilha essa interação Marlene, você esta de parabéns e continue sempre, pois só quem pratica ciclismo principalmente na modalidade ciclotur, conhece esta parte da vida que nos trás felicidade.

    "Quando a velocidade máxima se faz com vento no rosto meio a natureza, torna-se imaginável a liberdade de um pássaro no ar".

    Abraços e Feliz 2011!

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  5. Olá Marlene!
    Descobri seu blog e acabei passando bons momentos por aqui.
    Parabéns pela dedicação e prazer demonstrados aqui, com relação ao ciclismo e ao cicloturismo.
    PS: e obrigado pela mensagem deixada em meu blog.
    Apareça mais vezes.
    Fraterno abraço!
    Celio Ferr - ARvoreAR Brasil!

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