Pedalar...

PEDALAR, CINEMA INTERATIVO 360°
A BICICLETA E OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NOS CHAMANDO PARA A VIDA

quinta-feira, 14 de julho de 2016

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO IBITIPOCA

Não foi uma viagem de bicicleta, embora mapear uma rota de cicloturismo tenha sido uma das razões para viajarmos mais de 500km a fim de conhecer aquela região.

Comecei o feriado do "09/07" com dois convites irrecusáveis: um pedalzão até a cachoeira da pequena cidade de Mombuca-SP e a trip para Conceição do Ibitipoca.



Primeiro dia:

Há mais de um mês sem chuva, com umidade do ar muito baixa e com a safra de cana-de-açúcar a todo vapor, o resultado foi MUITA poeira!

Foi chegar do pedal, tomar banho, almoçar (às 3 da tarde) e embarcar no carro do Paulinho e da Luciana, com toda a tralha de camping.

Saímos sem pressa - bem no estilo do Paulinho, e fizemos um pernoite em Inconfidentes, na pousada do posto de gasolina.

No domingo, chegamos na cidade de Lima Duarte - a porta de entrada para Conceição do Ibitipoca. A partir daí, são cerca de 30km montanha à dentro.

Entrada da cidade de Lima Duarte-MG


Julho, mês de férias, essas vilas ficam cheias de turistas. E enquanto nós chegávamos, muitos partiam.

A estrada é de terra e a poeira levantava, quase nos sufocando. Apenas os trechos mais íngremes possuem calçamento. A poeira era tanta, que algumas lojinhas na beira da estrada ligavam uma espécie de chuvisco, para aliviar.



Desde logo, senti simpatia pela pequena vila encravada na montanha. O piso é todo de pedra e praticamente não existem lugares planos. 



Localizada na zona da mata mineira, Conceição do Ibitipoca é distrito do município de Lima Duarte-MG, distante 3Km da portaria do Parque Estadual do Ibitipoca. Alguns estudiosos da língua tupi descrevem a tradução do nome Ibitipoca como “casa de pedra”, pela existência das grutas que serviam de moradia aos índios. Outros estudos indicam a versão da “serra que estala” (ibiti= serra + poca = estala), referência aos trovões que são comuns na serra.

Os primeiros relatos sobre a região datam de 1692, o “Monte do Ebitipoca” é citado no roteiro de viagem do Padre João Faria Fialho (bandeira de Taubaté). No século seguinte, a região atingiu mais de cinco mil moradores em decorrência da procura pelo ouro. Após a descoberta do mineral em abundância, na “Vila Rica”, o êxodo foi geral. Ficou apenas a população mais humilde que não tinha condição financeira para sair. Hoje, 300 anos depois, a vila é freqüentada por turistas de todo o mundo e a população não ultrapassa dois mil habitantes. 

(Fonte: http://www.ibitipoca.tur.br/vila)


Logo soubemos que o Parque Estadual fecha às 18 horas e, como nossa intenção era acampar no Parque, fomos pra lá rapidinho pois, como todos sabem, o sol se põe mais cedo nas montanhas.

Aconteceu que o preço do camping, mais o preço do estacionamento e mais o fato de não podermos sair do camping após o fechamento do parque inviabilizou nossa estadia lá dentro.

Resolvemos procurar outro lugar para montar acampamento, enquanto a temperatura caía.

Encontramos um camping a 1Km de distância da entrada do parque, o Camping do Mariano - facebook.com/campingdomariano - com bom preço e boa infraestrutura.

Camping do Mariano


Depois de viajarmos o dia todo e com tanta poeira acumulada, um excelente banho quente recuperou nossa alegria.

Bem agasalhados, descemos à Vila, na expectativa de aproveitarmos os últimos raios do sol e encontrarmos o famoso Pão de Canela para o nosso café da manhã.




De volta ao camping, nos esticamos em nossas barracas para passar a fria noite na Serra do Ibitipoca. Provavelmente o choconhaque fez o efeito desejado e meus pés logo esquentaram, o que favoreceu um sono rápido que durou até a primeira virada de corpo. Então eu me lembrei como é literalmente duro dormir acampado.

Segundo dia:

Estava acordada antes do dia amanhecer, claro. E foi só o sol surgir que logo saí do confortável saco de dormir para dar uma boa olhada na paisagem em torno.



O plano era fazer um trekking no Parque, o mais longo - até a Janela do Céu. E era melhor ir se preparando...

Começamos por um reforçado café da manhã, que incluiu ovos cozidos, café com leite e o pão de canela que compramos ontem.



Arrumamos as mochilas e começamos a subir para o Parque. O visual é encantador!








Paga-se R$ 10,00 na portaria.

Logo na entrada a gente se apercebe da grandeza da natureza que nos rodeava, enquanto caminhávamos em direção ao Centro de Visitantes.











Assinamos o livro de visita, pegamos uns flyers e iniciamos a caminhada que nos levaria até a "Janela do Céu".





O terreno é irregular, arenoso ou em pedra e, por ser formado de quartzito e outras rochas cristalinas, de forma que visualizamos um "brilho" no solo enquanto caminhamos. É lindo!


Começamos a trilha na sombra das árvores baixas do local, pois a vegetação que predomina, segundo vimos no Centro de Visitantes, é de "campos rupestres". São muitos arbustos, cactos, bromélias, pequenas flores coloridas e um capim muito bonito Toda a vegetação suporta um solo raso e arenoso.










Enquanto isso, pudemos observar, lá embaixo, a cadeia de montanhas da Mantiqueira e lindas formações rochosas, que inclui paredões e grutas.







E a subida continua...

Poucas pessoas estavam no Parque, o que nos deixou felizes. Também, sendo uma segunda-feira, eram poucos os privilegiados. Demos graças!

Após horas de caminhada, chegamos á Janela do Céu - um local espetacular! O que chama a atenção é a cor dourada das pedras sob a água do riacho encachoeirado. Fui ler à respeito:

"De grande beleza hídrica, a serra tem um tom de ouro especial em seus riachos; isso se deve a decomposição da matéria orgânica vegetal humificada, chegando facilmente as águas devido a porosidade do solo, que também é responsável pela acidez dos rios, empecilho para sobrevivência de peixes."

Janela do Céu

Janela do Céu

Janela do Céu

A água da "Janela do Céu" despenca de um paredão de grande altura, dando um aspecto fantástico ao lugar.



Estávamos cansados e com os pés doloridos da caminhada naquele terreno difícil. 


Como foi bom ficarmos descalços e nos refrescar naquela água gelada! Na verdade, foi revigorante.

Depois de curtir bastante aquele lugar paradisíaco, seguimos a trilha, toda demarcada, para completarmos o circuito mais longo do Parque, que são 17km.










E assim seguimos cercados daquela paisagem deslumbrante que nos presenteava com cor e luz.
Com os pés doloridos, tivemos que descer um terreno perigoso e escorregadio.



Mais alguns quilômetros e chegamos na "Prainha" - um lugar lindo, de areia branquinha, águas em tom dourado e um imenso paredão de rocha ao fundo. 





Encontramos as outras quatro pessoas que faziam o mesmo circuito e desfrutamos um pouco daquele lugar mágico, enquanto o sol descia ao poente.



Seguimos juntos até o restaurante do Parque e brindamos com refrigerante a alegria de podermos desfrutar de tanta beleza.


Pegamos carona com os novos amigos até o camping, onde chegamos cansados e altamente energizados. 



Para minha extrema felicidade, o "seu" Mariano me emprestou dois colchonetes, o que significava uma noite bem mais confortável. Além disso, trouxemos nossas barracas para a parte coberta do camping, o que nos livrou do sereno.

Cozinhamos nosso jantar, que incluiu arroz, shitake refogado no óleo de coco e salada de tomate e alface. Que delícia!

Ai pra cá, ai pra lá, pés e tornozelos e panturrilhas doloridos, descemos novamente até a Vila para comprar algumas lembrancinhas e pão de canela para trazer pra casa. 

Terceiro dia:

Acordamos sem pressa, preparamos o café da manhã que incluiu um delicioso chá de gengibre enquanto o sol ia subindo por trás das montanhas.



Ainda preenchidos pelo visual amplo dos horizontes infinitos, começamos a arrumar nossas coisas para o retorno.

Pela última vez, passamos pela Vila de Conceição do Ibitipoca, com seus casarões antigos. 











Procuramos por outra saída, mais longa, mais lenta, pelas estradas de terra terciárias, serpenteando entre as montanhas do sul de Minas Gerais.




Um fato triste a relatar é a monocultura de eucaliptos - enormes plantações a perder de vista. Tem lá sua beleza. Mas logo serão cortados e nem sua sombra restará para abrandar a tragédia ambiental que vem sofrendo toda a cadeia de montanhas da imponente Mantiqueira.



Por sorte, não encontramos muito trânsito, mas o pouco que encontramos foi o suficiente para levantar um poeirão daqueles.

É inverno, é julho,mas o calor é forte. 

E na toada do Paulinho, passamos por Santana do Garambéu, Andrelândia, São Vicente de Minas, Minduri e Cruzília, onde chegamos no fim da tarde.





Não tem camping em Cruzília. Então, começamos a procurar pousada. Fomos em algumas, mas as que tinham vagas eram caras para um simples banho e pernoite. Mas, para nossa sorte, num posto de gasolina, veio falar conosco uma pessoa sugerindo uma pousada "coisa fina". Falamos da nossa condição de pouca grana e muito cansaço e o cara pediu que o seguíssemos com o carro.

Ele nos levou até a Pousada Guilhermina, que nos deixou de queixo caído: era uma linda pousada, novinha, com grandes camas, um ótimo chuveiro e, pra completar, um excelente café da manhã. Mais gratidão!

Quarto dia:

Despedimo-nos de Cruzília e do hospitaleiro povo mineiro.



Ainda pela rota da Estrada Real, passamos por Baependi, Caxambú, São Lourenço, Carmo de Minas, Pedralva, São José do Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Borda da Mata, Inconfidentes, Bueno Brandão, Socorro, Monte Alegre do Sul, Amparo, Santo Antonio de Posse, Holambra, Cosmópolis e, finalmente, Americana, onde chegamos por volta das 19 horas.



Nao existe nada melhor na vida do que fazer o que se ama, ter bons amigos, amar e ser amado, viajar o mundo, se abrir para o novo, aprender com os erros, viver intensamente cada momento que a vida nos proporciona!