Pedalar...

PEDALAR, CINEMA INTERATIVO 360°
A BICICLETA E OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NOS CHAMANDO PARA A VIDA

domingo, 10 de agosto de 2008

Caminho da Fé - 500km entre SP e Sul de Minas Gerais

CAMINHO DA FÉ 
 “ Uma jornada de fé e amor à natureza”


Inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela, um grupo de voluntários da cidade de Águas da Prata-SP se propôs a viabilizar o projeto Caminho da Fé, considerando a religiosidade dos brasileiros e o grande afluxo de peregrinos em direção à cidade de Aparecida, sede da nossa Padroeira.

Com o auxilio de um mapa, foi traçado um roteiro a partir de Águas da Prata, e o Caminho da Fé pôde ser inaugurado em 2003.

No mesmo ano, foi feita a 1ª extensão do Caminho até a cidade de Tambaú, ligando assim, dois pólos religiosos: Tambaú e Aparecida.

Dando continuidade ao projeto, a cidade de Descalvado agregou-se ao Caminho recentemente, possibilitando um percurso de aproximadamente 500 Km.

De um ponto a outro, os peregrinos costumam ir a pé ou de bicicleta, num percurso inteiramente sinalizado com placas e setas amarelas, atravessando belos vilarejos, rios, bosques e montanhas, numa aventura inesquecível.

A principio, o meu desejo era curtir alguns dias de paz interior enquanto pedalava minha bicicleta, mas logo percebi que aquela seria uma jornada onde seriam testados meus limites físicos e mentais e que exigiria de mim muito fôlego e uma ótima resistência física, por causa das íngremes montanhas, algumas delas bem técnicas, num percurso com um desnível acumulado de mais de 8 mil metros, ou seja, é como subir um Monte Everest !
O Caminho transfigurou-se, então, numa jornada de fé e determinação, sem as quais eu não conseguiria atingir meu objetivo, que era pedalar os 500km e chegar à Aparecida !

Primeiro dia:
Descalvado – Porto Ferreira – Sta. Rita Passa Quatro – Tambaú: 
73 Km.

Ireja Matriz de Descalvado

A primeira providência em Descalvado foi retirar a Credencial do Peregrino com o primeiro carimbo para podermos, desta forma, iniciar nossa peregrinação, seguindo as setas amarelas.
Ao longo do percurso, temos que passar nos pontos credenciados pela Associação do Caminho da Fé para carimbarmos a Credencial.
Se conseguirmos completar a viagem, em Aparecida receberemos o Certificado de Peregrino Mariano!
 
A paisagem, neste primeiro trecho, é composta por estradas de terra, com plantações de cana e laranja.





Após uma dura subida para chegar em Santa Rita, com sol forte, muita areia e pedra solta, seguimos pelo asfalto até Tambaú, onde chegamos já estava noite.


Segundo dia:
Tambaú – Casa Branca – Vargem Grande Sul – Serra da Fartura: 80 Km.


Este dia foi quase todo composto por trilhas dentro de sitios e fazendas, e as setas amarelas estão pintadas nas porteiras, cercas, pedras e até nos cupinzeiros. Passamos por plantações de batata e imensos cafezais, com subidas e descidas radicais.

Casa Branca
Estava melhor que ontem pois o sol se posicionou quase sempre às nossas costas, mas, não há engano, começamos a subir a partir de hoje. 
Nos últimos quilômetros a subida ficou bem íngreme, cheia de pedras soltas e buracos.
Neste dia, conseguimos chegar na pousada da Dona Cidinha Navas, casa dela, que nos recepcionou muito bem, com muita alegria, e preparou um jantar caipira no fogão à lenha que nos fez esquecer o cansaço do dia inteiro de pedal. 
Encontramos mais três peregrinos de bike na pousada e pudemos trocar idéias e informações à respeito do Caminho.



Terceiro dia:
Serra da Fartura – São Roque da Fartura – Águas da  Prata – Andradas: 70 Km.


Continuamos subindo a Serra da Fartura. Com a chegada da Serra da Mantiqueira, a paisagem fica ainda mais linda! 





Após muitas subidas surge a pequena São Roque da Fartura...


Carimbamos a credencial e seguimos em direção à Águas da Prata, numa descida inesquecível. O visual alí é indescritível.









Vista de Águas da Prata

Chegando na cidade vi o pneu da bike furado e o freio, que tinha sido exigido no último, precisava ser substituído. Este contratempo atrasou nosso cronograma e começamos a subida para Andradas...


A travessia até Andradas foi extenuante, exigiu muito de mim. Subimos de 800 para 1400 metros, num terreno difícil.



Foi tão duro que pensei em desistir pois a exaustão fez com que eu não conseguisse me alimentar.


Quarto dia:
Andradas – Serra dos Lima – Barra – Crisólia – Ouro Fino – Inconfidentes – Borda da Mata: 
76 km.


Para seguir em frente, depois do esforço gigante de ontem, me vali da força mental.
Após um excelente café da manhã, outro ânimo me preencheu.
Em Andradas situa-se a “temida” Serra dos Lima onde há, realmente, trechos bem fortes mas só uns dois quilômetros dela são realmente casca grossa. 

Vista da Serra dos Lima

Barra, vilarejo que situa-se parte em Andradas e parte em Ouro Fino, nos presenteia com uma linda cachoeira cheia de sombra, parada obrigatória dos peregrinos.



Em Crisólia, povoado que nasceu do achado de uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, chegamos no horário do almoço e, após um merecido descanso, seguimos em direção à Ouro Fino.

Placa do CF em frente ao bar da Zeti
Crisólia

Como na música de Sergio Reis, uma imensa estátua de um menino numa porteira dá boas-vindas aos peregrinos na chegada em Ouro Fino.

Ouro Fino


Seguindo as setas amarelas, passamos ainda pela simpática cidade de Inconfidentes...

Inconfidentes


















...e continuamos, em direção à Borda da Mata, onde chegamos à noite, super cansados.


Quinto dia:
Borda da Mata – Tócos do Moji – Estiva – Consolação: 61 Km.

Borda da Mata

Por incrível que pareça estou me sentindo super bem, somente aquele cansaço natural.
O dia hoje será muito difícil, sabemos, as subidas serão intermináveis do começo ao fim. 
Na Mantiqueira é assim: a gente sobe, sobe, despenca morro abaixo, e chega em algum vilarejo.
As subidas são íngremes e as descidas técnicas e perigosas. Haja pernas!



Saímos de Borda com frio e neblina mas logo começamos a subir tanto que rapidamente esquentou e tivemos que tirar os agasalhos.


Antes de Tócos do Moji, após subidas insanas, chegamos numa gruta onde peregrinos que passaram antes do nós haviam deixado bananas, água e gel energético. Nessas alturas, foi reconfortante esta gentileza.

A paisagem ali é tão bonita que dá vontade de fotografar tudo pelo caminho. Uma distração dessas me fez perder as setas amarelas. Mas o objetivo era chegar em Tócos, o que fiz sozinha sem nenhum problema.


Chegamos em Tócos num domingo. A cidade é pequena e o povo estava todo concentrado na praça, o que nos fez meditar sobre a correria da vida cotidiana...

Tócos do Moji

Mas estávamos apressados. Nos suprimos, então, de banana prata, o que daria energia rápida para a nossa travessia.


A partir dalí, passamos por imensas e bem cuidadas plantações de morango, até Estiva.

Carros de boi são vistos com frequencia

Chegamos na cidade e já subimos tanto, tanto, que nem sei de onde estou tirando energias!

Neste ponto, atravessamos a Rodovia Fernão Dias e seguimos em direção à cidade de Consolação. A serra para chegar lá é dura, mas a paisagem prova por que a Mantiqueira é um roteiro inesquecível.








A descida até a cidade é forte e perigosa e temos que ficar atentos senão é tombo certo. Lembrei-me, nessa hora, do meu amigo Albino Suzigan, que me orientou sobre a importância de um bom pneu.



Olhando para tras

Das montanhas que atravessamos, posso dar apenas uma noção, jamais descrever o gás necessário para atravessá-las.


Não imaginei que estivesse tão bem preparada fisicamente !

Sexto dia:
Consolação – Paraisópolis – Luminosa – Campista: 65 Km.

A chegada em Consolação foi, para mim, uma superação. Na igreja, acontecia a missa de domingo. Eu entrei e chorei que nem criança. Passou, é passado!

Consolação
 Fiquei sabendo que esta cidade possui o terceiro melhor clima da América do Sul. Bons ares para quem saiu de Americana!
No dia seguinte, seguimos em direção à Paraisópolis. A estrada é linda!



Caminho para o paraíso...
Quando as subidas dão uma trégua, chegamos num ponto interessante do Caminho. Estamos a 1.200 metros de altitude e a visão é ampla, alcançando a Pedra do Baú, à distância... Mais um pouco e estamos em Paraisópolis. O céu é de um azul indescritível !


Matriz de Paraisópolis

Ficamos um pouco na cidade, que é carinhosamente chamada de Paraíso e percebemos pessoas alegres e hospitaleiras, do jeito que estamos acostumados a ouvir sobre o povo do sul de Minas.
Seguindo o Caminho, passamos pelo vilarejo de Cantagalo...



... e avistamos a pequenina Luminosa, e a descida perigosa para chegar lá...



Sabíamos de antemão que este penúltimo dia seria o mais radical de todos, pois teríamos que atravessar uma montanha “rompe-pernas” e chegar a 1.810 metros de altitude. O nome do pico, inclusive, faz jus: quebra-perna !
Então, começamos a escalada margeando um imenso bananal, o que nos proporcionou alguma sombra, enquanto “algo” ou “alguém” nos empurrava...



Corpo e mente juntos numa só motivação: chegar no alto e avistar o marco que indicava que estava faltando apenas 100 Km para o final.

O cansaço fez a foto do marco dos 100K ficar assim
Quando chegamos na pousada em Campista, próximo à Pedra do Baú, já era noite e estava um gelo !
Incrível pensar o quão revigorante e motivador pode ser um banho quente e um bom jantar !
Eu pensei: Meu Deus, só faltam 90 Km !!!

7º e último dia:
Campista – Campos do Jordão – Pindamonhangaba – Roseira – Aparecida: 
95 Km.


Refúgio do Peregrino - Campos do Jordão


A pousada acolhedora e o café da manhã revigorante nos deu ânimo!
A pedalada hoje será apenas pelo asfalto.
Olhando a altimetria pensei que seria só descida para chegar em Campos, se bem que, nessas alturas, qualquer subidinha já me fazia descer da bike!
Mas, realmente, com muito frio e, portanto, bem agasalhados, iniciamos uma descida de seis quilômetros, em meio às araucárias. O frio era congelante!
De repente, subida. Subida para chegar em Campos do Jordão??? Como assim???
Cinco quilômetros de subida, e nós fomos nos desvencilhando dos agasalhos enquanto avistávamos pessoas se aquecendo em fogueirinhas improvisadas nos pontos de ônibus.
Quando chegamos na cidade, resolvemos descer a serra pelo caminho mais rápido por conta do horário do ônibus que nos traria de volta.

Sendo assim, passamos na Pousada do Peregrino para carimbar a credencial e nos preparamos para descer os 26 quilômetros da serra com adrenalina total !


Às onze horas da manhã já estávamos em Pinda, à beira do Rio Paraibuna, tomando um caldo de cana. A placa ao nosso lado indicava que faltavam apenas 32Km.



Pedalar pelo Vale do Paraíba foi um prazer à parte: é plano e rápido.


Às 12:50 horas, com muita alegria, chegamos no Santuário Nacional de Aparecida !



Adentrar aquele templo após tantas emoções foi muito importante para mim.
Recebemos a “Mariana” e os parabéns da funcionária da secretaria do Santuário. Legal !



“Abençoada fui com a poderosa intercessão de Nossa Senhora, que me proporcionou um Caminho pleno de Luz”


Ciclistas: Marlene Martim / Mauricio Gervenutti
Maio, 21 a 27 de 2008

2 comentários:

  1. muito show as fotos..

    fiz pela primeira vez em 2011.. e duas vezes de tão emocionante que foi

    em junho e depois em julho

    tenho o relato de cada dia no meu blog

    Abraços

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  2. Ave Maria! Agora vou respirar, tomar fôlego após essa linda narrativa! Aliás, narrativa de Fe e de força que envolve qualquer um que deseje aventurar - se nessa longa travessia!
    Parabéns Marlene! Tenho FÉ que fare

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