Pedalar...

PEDALAR, CINEMA INTERATIVO 360°
A BICICLETA E OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NOS CHAMANDO PARA A VIDA

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Bicicletando por Maresias - São Sebastião - Ilhabela

Viajar de bicicleta é como estar num cinema interativo e a gente quer sempre estar ativando este sentido. Dá pra entender?

Se passa um tempo sem uma cicloviagem, o coração começa a pedir. É uma sensação interessante.

O problema é que nem sempre se consegue companhia, mas a necessidade bateu forte e não tive como não partir.

Montei um roteiro "pequenos gastos - grandes amigos", fiz os contatos e embarquei em mais um caminho em duas rodas.

Um roteiro lindo e de logística descomplicada é o litoral norte de São Paulo - a famosa Costa Verde.



Poderia ter começado pela Costa dos Fortes, em Santos, e passar pelo Guarujá, para alcançar Bertioga mas, infelizmente, os perigos e a violência são reais naquela região e, confesso, depois do assalto que sofremos na baixada santista, não me animei a percorrer aquele trecho sozinha. 

Iniciei em Maresias, que já conhecia bem e onde tenho uma grande amiga, que pôde me hospedar.


Igreja caiçara no centro de Maresias

Praia do surf - Maresias

Maresias delimita o último reduto dos índios Tupinambás. A serra de Boiçucanga os separava dos índios Tupiniquins.

E que serrinha dura aquela!

Ela me conta que chovia há um mês, aquela chuvinha de praia e, realmente, dos quatro dias que fiquei por lá, só fez sol em dois. 

Ficar ao nível do mar, caminhar na areia da praia, tomar banho de mar, respirar a maresia é uma necessidade primária do ser humano. Todos necessitamos passar um tempo à beira-mar. 
Tenho a impressão que o oceano equilibra nossos centros de energia. 


Praia do surf - Maresias

Quem não se cura em contato com essa força da natureza?

Eu, pelo menos, quando estou à beira-mar, busco me impregnar dessa energia vitalizante através de todos os meus sentidos. Por isso busquei a água, a mata, os horizontes amplos.

Encontrei a árvore pela qual tenho grande devoção: o jequitibá. Que espécie magnifica de gigante!


Jequitibá no final da Rua do Forno - Maresias

Atravessamos o promontório de Maresias, seguindo os "Passos dos Jesuítas", que leva à Praia de Paúba.
Encontrei as setas amarelas desse caminho em vários locais. ( http://www.turismoemsaopaulo.com/visitantes/projetos-turisticos/34-passos-dos-jesuitas.html )


Promontório de Maresias


Praia de Paúba

Apesar de todas as belezas naturais da região, tem uma coisa que não pode deixar de ser dita: nunca, jamais, por nada esqueça o repelente. Sem repelente não dá pra viver neste pedaço do litoral. É fato.

Quando chegamos em Paúba, por exemplo, resolvi caminhar até o fim da praia, dar um mergulho e voltar. E precisei fazer isso quase correndo, por causa do ataque dos borrachudos.

A pedalada até São Sebastião iniciou com chuvisqueiro fraco e temperatura muito agradável.


Saindo de Maresias, rumo à São Sebastião



Não me recordava que tinha tanta subida naquele trecho.



Resolvi conhecer Toque-Toque Grande e depois tive que subir até a pista. Fiquei molhada de suor.


Igreja caiçara em Toque-Toque Grande


Demorei duas horas e 53 minutos num percurso de 34,62km, numa velocidade média de apenas 12km/hora.

Tudo correu sem o menor problema, com pouco trânsito. Deu para apreciar a vista e fazer algumas imagens.





Quando cheguei na balsa ela estava pra sair e, sem nenhum problema entrei na Ilhabela.



Saída da balsa - Ilhabela

Fiquei gratamente surpreendida quando comecei a pedalar, porque fizeram um linda ciclovia que percorre todo o caminho, desde a balsa até o centro.


Ciclovia - Ilhabela

Ciclovia - Ilhabela

Ciclovia - Ilhabela

Havia combinado com os amigos que moram na Ilha de ficar na casa deles e, depois de perguntar onde ficava o endereço, vi que era muito fácil. Fui super bem recebida e me trataram como irmãos.

O trajeto até a Ilha me deixou bem cansada. 

No dia seguinte resolvi fazer a trilha para a Baía de Castelhanos. Já conhecia o caminho: são 11km de subida dentro do Parque Estadual de Ilhabela. Um lugar fantástico, sombreado, com barulho de cachoeiras e cantos de pássaros. E vários aromas da Mata Atlântica. A subida é puxada e eu fiquei molhada de suor.


Visual da Estrada de Castelhanos


Trilha de Castelhanos

Subi os 11km em 1 hora e 36 minutos numa média de 6,6km/hora.


Trilha de Castelhanos

Trilha de Castelhanos

Trilha de Castelhanos

Trilha de Castelhanos

Fui só até o fim da subida, no mirante, porque, apesar da descida ser de 9km até a praia, o retorno é bem duro. Existem pelo menos 4 pontos de barro "brabo" e eu preferi evitar, por estar sozinha.

Desci os mesmos 11km em menos de meia hora, com muito cuidado para não escorregar e cair.

Senti-me bem fisicamente. Parece que a Mata Atlântica agiu beneficamente sobre meus músculos e não senti cansaço.

Aproveitei para rever a ciclovia que vai até a Vila - muito linda - e também relembrar as maravilhosas paisagens de Ilhabela, com seus veleiros e dezenas de outras embarcações que embelezam ainda mais o visual.






Em dado momento, olhando para o Pico do Baepi, vislumbrei no céu, em forma de raio, todas as cores do arco-iris. Fiquei observando aquele fenômeno por longos minutos, até que ele desapareceu. Com receio de perder aquela linda visão, não ousei fotografá-lo. Ele ficará em minha memória.


Igreja de Nossa Senhora D'Ajuda - Ilhabela



Canhões - Vila - Ilhabela


Igreja caiçara - Praia do Perequê - Ilhabela

A cidade, além das belezas naturais, tem uma energia boa. As pessoas são educadas e não se vê animais perambulando, nem mendigos e nem muita pobreza. A limpeza das ruas e organização também me chamaram atenção.

Passeei tranquilamente por tudo, aproveitando o sol.

No fim do dia o velocímetro marcou pouco mais de 50km percorridos.

A quinta-feira amanheceu nublada e eu acordei disposta a ir até a entrada da trilha do Bonete, no sul da Ilha.

O café da manhã foi pão com manteiga e uma xícara de café. Prendi a mochila no bagageiro e parti, feliz da vida.


Ilha das Cabras - Sul - Ilhabela

Tinha me esquecido do sobe e desce, mas fui indo em frente, passando pela Ilha das Cabras, Praia de Portinho, Julião, Feiticeira, Praia Grande, Curral, Veloso... sobe, desce. Sobe muito, desce...


Igreja caiçara - Praia de Portinho - Ilhabela

Igreja caiçara - Praia Grande - Ilhabela



E eu me lembrei que não tinha levado nada para comer, crente de que iria encontrar algum bar ou lanchonete, mas o caminho ia ficando cada vez mais ermo.

Vi uma senhora e perguntei de algum bar e ela disse que tinha um a uns 2km. Cheguei lá e estava fechado.

Perguntei para uma outra pessoa, que me disse que teria um bar no fim do asfalto. Cheguei lá e estava fechado.

Para chegar no começo da trilha, teria ainda um trecho desconhecido para mim. Então, resolvi voltar. O velocímetro marcava 22km.

Passei na frente de uma pousada, que estava com o portão aberto. Resolvi entrar. A mesa do café da manhã dos hóspedes estava posta, com pães, sucos e frutas. Me desculpei pela invasão e pedi uma fruta. A funcionária me deu uma banana e uma maçã. Comi a banana e guardei a maçã para comer durante o retorno.



Não que eu estivesse morrendo de fome, mas acho que quando comecei a pensar que sentiria fome, a mente já começou a trabalhar nesse sentido. É interessante isso.

De novo fiquei molhada de suor. De pingar mesmo!

Conforme fui chegando nessas praias mais frequentadas, encontrei um bar. Tomei um refrigerante, comi um salgado e me senti bem melhor.

Mais tranquila, parei na Praia Grande para dar um mergulho. Cinco braçadas e já estava num lugar fundo. Meu medo de água deu as caras, mas eu respirei fundo, virei de costas e boiei até o raso. Que susto!

Dei um tempinho no sol e saí fora.

O final do pedal foi debaixo de sol quente e finalizou com 41km em 3 horas e 11 minutos e uma média de 12,7km/hora.

Como é boa a sensação de meta cumprida! Dá uma alegria.

A sexta-feira 20 era feriado e Ilhabela encheu de turistas. Amanheceu chovendo.

Fomos dar um passeio na Vila, comprar algumas lembrancinhas e almoçar.


Vila - Ilhabela

Vila - Ilhabela

A chuva parou, o tempo abriu, e resolvemos ir conhecer alguns lugares da costa sul, algumas casas lindas que tem por lá.


Bairro do Bexiga, ao sul de Ilhabela

Na volta, paramos para dar um mergulho na Praia do Julião: prainha pequena, linda, calma.


Praia do Julião - Ilhabela

Praia do Julião - Ilhabela

Ficamos algumas horas na praia e depois me levaram para conhecer a cachoeira dos 3 Tombos. Tem uma trilha curta para chegar na terceira queda.




Eu, que não sou muito de entrar em cachoeiras, não resisti. A queda massageia e eu saí dela com uma vitalidade renovada e feliz da vida. Deu a impressão que as "urucas" tinham sido levadas pela água. Elevei à Deus um pensamento de gratidão.



A noite da sexta-feira estava bonita, quente, mas no meio da noite o tempo virou e choveu a madrugada toda.

O dia amanheceu chovendo fraco, mas os planos eram ir até a Praia do Jabaquara, na costa norte.

Eu ia de qualquer jeito, com chuva ou sem chuva. 

Saímos de casa por volta das oito e meia da manhã, com chuvisqueiro fino, mas foi só a gente sair que apertou. Colocamos nossas capas de chuva e resolvemos "enfrentar" o mau tempo.


Mirante ao norte de Ilhabela

Mirante ao norte de Ilhabela

O lado norte da Ilha também é maravilhoso. Passamos pela Vila e ganhamos vida curtindo aquele visual fantástico da Praia da Armação, Praia do Sino...


Pedra do Sino, ao norte de Ilhabela

O fim do asfalto mostra ainda mais a beleza do lugar e, mesmo com chuva, a estrada estava em ótimas condições.




Meu amigo fez questão de me mostrar a prainha de Pacuíba, onde existe uma única casa com um único morador. Lugar lindo!


Praia Pacuíba - Ilhabela

Praia Pacuíba - Ilhabela

Praia Pacuíba - Ilhabela

Para chegar na praia, tivemos que descer um caminho encharcado e escorregadio e passar por um riacho em vários trechos. Mas valeu muito a pena.

Seguindo o pedal, chegamos no alto, de onde se avista a belíssima Praia de Jabaquara.


Praia de jabaquara - Ilhabela

Até ali percorremos 20km.

Na volta, a chuva parou e o céu abriu um pouco.

Fizemos uma paradinha na Vila novamente, para ver os navios de cruzeiro que estavam chegando.




As bicicletas ficaram bem sujas. No total pedalamos 40,61km em 3horas e 14 minutos, a 12,4km/hora.

O clima influencia muito no pedal, tanto que nem senti cansaço.

Cuidei da bike com o carinho de sempre e após o almoço voltamos à Vila, para um sorvete e mais algumas comprinhas e visitas às lojas. 

Foi meu último dia na Ilhabela.

O domingo amanheceu com o canto dos sabiás e céu com aberturas de azul.

Despedi-me dos queridos amigos com carinho e gratidão e segui para a balsa, que me levaria ao continente. 

Comprei minha passagem para São Paulo para as 10:40 horas (58,00) e aproveitei para conhecer um pouco melhor o Centro Histórico desta antiga cidade brasileira. Adoro lugares históricos.


Igreja matriz de São Sebastião - século XVII



















De volta à rodoviária - nova e moderna (finalmente!) - abracei meu velho amigo, embarquei minha querida bicicleta e parti para Sampa.

A viagem transcorreu sem problema algum, assim como meu desembarque no terminal Tietê às 14:15 horas. 

Comprei passagem para Americana para as 15:00 horas (37,00) e cheguei tranquila.

Após 10 dias desfrutando de lindas paisagens e da amizade de verdadeiros irmãos, aqui estou, de volta a Babilônia.


Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.

Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. 

Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.
Clarice Lispector