Pedalar...

PEDALAR, CINEMA INTERATIVO 360°
A BICICLETA E OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NOS CHAMANDO PARA A VIDA

domingo, 17 de outubro de 2010

Cicloturismo Santos - Ilha do Cardoso

Minha alma, que adora viver em liberdade, sempre me pede a sensação deliciosa de sentir o vento no rosto, o calor do sol me aquecendo.

Eu ansiava por mais uma viagem de bike e, como gosto das coisas simples, optei por um cicloturismo pelo litoral sul de São Paulo.
Ficava fácil, pois eu embarcaria aqui em Americana mesmo, desceria em Santos e iniciaria a cicloviagem de maneira bem fácil.

Meu parceiro de pedal é meu filho Samir, 22 anos, que além de cicloturista é fotógrafo. É um prazer quando viajamos juntos. Ele é um cara super tranquilo e também habilidoso, de forma que as horas são sempre muito agradáveis.
Samir: fotógrafo e cicloturista

Planejamos o roteiro tendo a Juréia como principal itinerário. Era més de dezembro e as chuvas do verão 2009-2010 estavam muito intensas e inviabilizariam a passagem por alí. 
Decidimos, então, adiar nossa partida para não perder o visual e a melhor parte da viagem.

O ano de 2010 chegou e com ele chegou um trabalho para o Samir e tivemos que prorrogar mais uma vez nossa partida.

A viagem não saía da minha cabeça. Visualizava as paisagens, os por-de-sol que veríamos e nada de podermos partir.

Em outubro de 2010 , finalmente, partiríamos.

Um amigo de meu filho resolveu unir-se a nós neste ciclotur, que seria fácil de ser feito pois quase todo o roteiro é beira-mar.
Eu gosto de fazer as coisas com tempo e planejamento então não gostei muito quando o Samir me disse que chegaria em casa na véspera da viagem às onze horas da noite. Me pediu para comprar sua passagem e que eu deixasse tudo pronto.

Fui com o Vinicius, nosso mais novo companheiro, comprar as passagens para Santos. No caminho para a rodoviária ele me disse: Marlene, estive olhando na internet nosso roteiro e li o relato de três cicloturistas que foram assaltados em Praia Grande.
Eu, que havia viajado de bike muitas vezes, disse à ele que "essas coisas acontecem mesmo", mas que não deveríamos ficar pensando nisso.

Pronto, chegou o dia da viagem.
A minha bike e a do Samir prontas, com bagageiro e tudo o mais e chega o Vinicius com a Scott dele, freio a disco e o bagageiro na mão para ser colocado aqui em casa.
O Samir, então, viu que aquele bagageiro não serviria na bike.
"Vou pegar o outro que tenho em casa, ele diz, e o colocaremos quando chegarmos em Santos. Beleza.

O embarque na rodoviária de Americana, pela Viação Piracicabana, foi tranquilo. Tiramos até foto com o motorista gente fina.

Quando chegamos em Santos e o Samir foi colocar o bagageiro na Scott do Vinicius, este não encaixava por causa dos freios à disco. Não encaixava e não encaixou mesmo.

Como o irmão do Vinicius mora em Santos, eu havia planejado ficar na quinta e na sexta feira pela cidade, fazendo um turismo pelo centro histórico e agora teríamos que resolver o problema do bagageiro.
Alguma coisa não estava bem, mas não sabia o que era.
Eu e o Sam, na Praia do Embaré

Procuramos um bagageiro que se adaptasse ao freio a disco pela cidade toda e não encontramos. Resolveu-se comprar uma mochila para o Vinicius e a sua barraca, saco de dormir, enfim, as coisas mais pesadas, seriam divididas entre mim e o Samir.

A sexta-feira amanheceu fria e chuvosa.
Tempo chuvoso em Santos
Eu não queria mudar meus planos mas os meninos resolveram sair da cidade grande o mais rápido possível para encontrar paisagens mais desertas. Acabei cedendo e saímos com chuva e tudo.
Prontos para o pedal

A ciclovia de Santos é muito legal e sempre muito movimentada. Estava tudo bem e logo a chuva parou.



Passamos por São Vicente e encontramos a ciclovia de Praia Grande.

Fizemos uma pausa para um lanchinho junto ao guarda-vidas, que ficou conversando conosco.

Que delícia! Estávamos tão contentes!
Planejávamos pedalar com calma, curtindo o visual, parando quando nos desse vontade, para chegar em Peruíbe no final da tarde.

Seguimos pela ciclovia, observando o mar, a natureza, as pessoas...

Nesta hora, me dei conta da falta da bomba de encher pneu. Falei com os meninos se algum deles tinha pego a minha, que fica presa na bike, e eles disseram que não e que eles também não tinham bomba.
Nesta hora, um pensamento ocorreu: precisamos resolver isso. 
Mas seguimos um pouco mais, quando iríamos sair da ciclovia para encontrar um lugar para comprarmos uma bomba.
Não deu tempo: três bandidos, que depois fiquei sabendo que estavam nos seguindo, nos fecharam e, com violência roubaram a bicicleta do Samir. Lutamos com eles. Meu filho, para me proteger, a mim e à minha bike, perdeu sua bicicleta.
O Vinicius, que estava por último, conseguiu fugir e chamou a policia (que não apareceu).
A cem metros da nossa abordagem pelos criminosos, havia muitas pessoas, que não moveram “um passo sequer” para nos prestar auxilio, mesmo eu gritando socorro, dizendo que era um assalto.
Meu filho ainda pegou minha bicicleta e perseguiu os bandidos até a favela onde eles entraram mas, infelizmente, não viu um policial na rua e teve que desistir para que o prejuízo não fosse maior.

Por sorte, digamos assim, eles não levaram nosso dinheiro ou celulares ou câmeras fotográficas e ainda deixaram uma das bicicletas que usavam no local. Foi a bicicleta que meu filho teve que utilizar para irmos, pelo menos, até a rodoviária.
A bici deixada pelos ladrões.

Nestes momentos, pareceu-nos que as pessoas que estavam por alí estavam todos mancomunados (palavra antiga), parecia que todos eram bandidos e procuramos sair dali o mais rápido possível.

Queriamos chegar logo na rodoviária para voltarmos para casa o quanto antes.

Não conseguimos embarcar com as bikes porque a Viação Cometa disse que só levaria as bicicletas se elas estivessem desmontadas e dentro de caixas de papelão.
Não adiantou argumentar.
Por sorte, conseguimos voltar, nós três, até Santos com a bicicleta que os ladrões deixaram no local.

No dia seguinte, na rodoviária de Santos, voltaríamos pela Viação Piracicabana, a mesma companhia que havia nos levado de Americana até Santos, mas o motorista disse que não embarcaria as bicicletas montadas. Argumentamos que chegamos em Santos com o mesmo ônibus, etc, mas nada.

Nessa hora fiquei transtornada. Será que teria que voltar pedalando para Americana? O que fazer? Como assim, desmontar as bikes, encaixotá-las, se elas eram nossos veículos?

Finalmente, chegou um outro ônibus, da mesma Viação Cometa, que nem falou nada, apenas abriu o bagageiro para que acomodássemos as bikes, sem nenhum problema.
Assim, pudemos voltar para casa, depois de um ciclotur fracassado.

Eu, que já percorri alguns roteiros longos, como o Caminho da Fé e a Estrada Real, nunca imaginei que passaria por uma violência dessas, de forma que o aprendizado foi muito grande.

Na próxima cicloviagem, estarei munida de spray de pimenta, um canivete à mão e, para os motoristas de ônibus mal-humorados que encontrar pelas rodoviárias da vida, a nota fiscal da bike e a cópia da Lei que me dá o direito de embarcar minha bicicleta sem sofrer constrangimentos.
Por enquanto, cada vez que tenho que comprar algum objeto que os ladrões levaram, desejo à eles uma vida de sofrimento e miséria.

Que Deus nos proteja porque seria muito pedir proteção da polícia: ela nunca está onde precisamos.

Até a próxima.